Entrevista

Presidente eleito do Sinduscon avalia cenário da construção civil

Marcos Fontoura comenta o momento econômico e os desafios do setor

Volmer Perez - DP - Posse do sócio e cofundador da ACPO Empreendimentos está marcada para o dia 29

Sócio e cofundador da ACPO Empreendimentos, Marcos Fontoura foi eleito recentemente presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil (Sinduscon) de Pelotas e região. Antes da cerimônia de posse, marcada para o dia 29, Fontoura recebeu o Diário Popular para falar dos desafios da construção civil de Pelotas e os objetivos de sua gestão.

Qual o atual cenário da construção civil em Pelotas?

A construção civil em Pelotas sempre foi de muita importância. Em uma cidade que carece de indústrias e de investimentos maiores, a indústria da construção sempre foi uma das grandes alavancas do crescimento econômico e de investimentos, da geração de emprego e renda. Nos últimos anos, ainda não teve aquela recuperação pós-pandemia. Pelotas é um polo que não foi tão afetado pela pandemia na construção civil, mas hoje estamos sentindo o impacto pós-pandemia. Percebe-se que o público comprador já não está com o mesmo poder de compra de antes. Isso hoje tem impactado diretamente na venda das empresas, principalmente das que trabalham com Minha Casa, Minha Vida, em que o cliente é o trabalhador, da renda direta, que está muito endividado. O endividamento das famílias tem trazido uma série de dificuldades para o poder de compra. O cliente tem a necessidade, quer comprar, gosta do produto, tenta comprar, mas está com restrição e acaba sendo barrado no agente financeiro, que geralmente é a Caixa.

Qual é a tendência do crescimento urbano de Pelotas? 

A gente percebe algumas faixas de crescimento de forma muito clara. A região do Centro em direção ao Laranjal tem se expandido muito por uma classe média, média-alta. Em outros eixos de crescimento, como avenida Fernando Osório, zona norte, avenida Ildefonso Simões Lopes, é onde tem vazios urbanos em que há previsão de expansão urbana e empreendimentos de média-baixa renda. São regiões da cidade onde tem vazios urbanos para serem ocupados, mas nos causam algumas preocupações, principalmente nos quesitos de infraestrutura urbana para poder atender essa demanda crescente. Nós temos problemas com falta de abastecimento de água, falta de infraestrutura de esgoto. Isso tem que ter uma união mais forte entre a indústria da construção e o poder público para poder sanar de forma mais célere esses problemas. Pelotas sempre teve um histórico de dez mil unidades deficitárias e a gente produz muito menos do que precisa. Quanto mais produzirmos, mais a infraestrutura tem que acompanhar, e a gente não vê esse mesmo ritmo.

Quais são os outros desafios do setor?

Um dos desafios em que temos buscado o diálogo junto à Prefeitura é desburocratizar os processos. De forma alguma o sindicato quer furar a fila ou descumprir regras, muito pelo contrário. A gente gosta da regra clara, tendo a regra clara, a gente joga o jogo. O que entendemos é que o processo é muito burocrático, um setor da Prefeitura depende do outro, que depende do outro, e eles não se conversam. O processo não está azeitado, então defendemos uma política de desburocratização de processo, criando uma linha não linear, mas com etapas sobrepostas, para que as coisas aconteçam paralelamente, dando mais responsabilização para o empreendedor, que tem responsabilidade total sobre o empreendimento. Ele não pode ser tratado durante o licenciamento como alguém que não tem responsabilidade sobre aquilo. Muitas vezes a gente enxerga que esse excesso de burocracia no processo dá a entender que o empreendedor não vai ter responsabilidade sobre aquele projeto. Essa é uma das grandes necessidades do setor, criar um diálogo mais forte junto à Prefeitura e à Câmara de Vereadores, que tem que legislar nesse sentido de evolução no processo de licenciamento.

Apesar desses desafios, quais as perspectivas a médio e longo prazo?

A construção civil vive de ciclos e já tivemos momentos piores do que os que estamos vivendo hoje. O que estamos enxergando é um cenário positivo, sempre com certa preocupação. O governo federal tem divulgado ações do Minha Casa, Minha Vida com um valor expressivo de investimentos. O dinheiro está lá, o que vai levar pra cidade a verba é a capacidade das empresas se unirem ao poder público, apresentar esses projetos para a Caixa, que faz essa gestão. As empresas locais têm capacidade, sempre foram reconhecidas pela alta capacidade de produção, em nível nacional, inclusive. Essa articulação precisa ser lapidada e a gente tem certeza de que o poder público tem esse desejo.

Recentemente, as alíquotas de ITBI e IPTU tiveram reajustes em Pelotas. Isso já afetou a construção civil?

É muito recente ainda para fazermos uma avaliação, mas qualquer aumento de tributo é completamente alheio ao desenvolvimento imobiliário e urbano da cidade. Nos posicionamos contra esses aumentos, mas quem legisla sobre isso não somos nós. Fomos surpreendidos com a aprovação e avaliamos como muito negativo para o setor imobiliário. É um retrocesso para nossa cidade.

 
Como o Sinduscon vê a necessidade de atualização do plano diretor de Pelotas?

Pelotas carece dessa revisão, que tem que ser feita de forma muito transparente. Tem que trazer todas as instituições para contribuir e criar meios de discutir de forma mais célere, mais saudável e mais digital. Temos uma diretoria específica para discussão do plano diretor, reunimos os escritórios de arquitetura da cidade para contribuir com sugestões. Entendemos como uma necessidade urgente retomar essa discussão, porque só vai favorecer a cidade, tanto nos pontos de vista ambiental, como urbanístico e produtivo. Um dos aspectos importantes é saber para onde a cidade quer ir, os empreendedores têm que ter um plano claro de mobilidade da cidade, de áreas de crescimento. Todas essas coisas têm que ser discutidas, há muitas opiniões distintas que têm que se unir em um consenso.

Quais os principais objetivos da sua gestão à frente do Sinduscon?

O que queremos é recuperar o poder de diálogo junto ao poder público, não que não houvesse, mas para sermos ouvidos como quem pode contribuir muito para a cidade. A construção civil gera crescimento imediato para a cidade. A partir do momento de uma licença da construção, imediatamente vai gerar emprego e renda. Se quer ter um movimento rápido de retomada da economia, investe na construção civil. Outra coisa que tem nos preocupado é trazer mais qualificação para o setor. É natural um certo envelhecimento da mão de obra e a nova mão de obra não ter interesse pelo setor da construção, trazendo novas tecnologias, novos fornecedores. Parte da diretoria está focada nisso, em trazer inovação, qualificando o setor como um todo. Mais do que simplesmente gerar negócios, é gerar emprego, renda e trazer bem estar para as pessoas.

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