O Instituto Chico Mendes de Biodiversidade (ICMBio) iniciou na última semana o processo de consulta pública sobre a criação do Parque Nacional Marinho de Albardão, em Santa Vitória do Palmar. A proposta é de que a unidade de conservação compreenda 1,6 milhões de hectares, a maior parte (98,7%) em ambiente marinho e 21 mil hectares em ambiente terrestre. Dos 154 quilômetros de costa em Santa Vitória do Palmar, o projeto do parque inclui 54 quilômetros. Serão realizadas reuniões de consulta pública nos dias 29 e 30 em Rio Grande e Santa Vitória do Palmar.

As Dunas do Albardão foram categorizadas em 2008 como um geossítio e também foram reconhecidas como um dos 23 locais com maior prioridade para conservação da biodiversidade e ecossistemas costeiros do Brasil, Uruguai, Argentina e Chile pelo Foro do Mar Patagônico. Além do objetivo ambiental, com a preservação de berçários marinhos e o fomento à pesquisa científica, a proposta também busca a geração de emprego e renda com o incentivo ao ecoturismo e ao turismo de aventura.

O projeto destaca a biodiversidade do local, com a presença de 15 espécies de aves marinhas e costeiras, como gaivotas e trinta-réis, e 27 espécies de aves pelágicas. A região também é lar de três espécies de tartarugas marinhas, dez espécies de mamíferos marinhos, como a baleia-franca, o golfinho nariz-de-garrafa, leões e lobos marinhos.
No local também estão presentes mais de 20 espécies ameaçadas, como a toninha, o golfinho mais ameaçado do hemisfério sul, e o boto-de-Lahille, ameaçado de extinção. “Portanto um inestimável mosaico de espécies, muitas das quais vulneráveis ou ameaçadas de extinção e que encontrariam no novo Parque uma ferramenta ideal de conservação”, conclui a proposta em tramitação no ICMBio.

Conservação e turismo
Segundo José Truda, Coordenador de Desenvolvimento Institucional do Instituto Baleia Jubarte, há mais de 15 anos estudos científicos apontam a região do Albardão como de extrema importância para conservação. Segundo ele, a categorização como parque nacional “permite por um lado a proteção integral dos recursos, ou seja, dentro do parque não pode ter mineração ou pesca, e por outro lado privilegia usos não extrativos desses recursos, que é o caso turismo”.

Ele explica que a proibição da pesca industrial naquela área vai favorecer a pesca nas regiões do entorno. “Não só espécies ameaçadas de extinção, mas também muitas espécies de peixes de interesse comercial se reproduzem nessa área, e o efeito de espalhamento desses animais que se reproduzem na área podem beneficiar a pesca fora dela”, diz.
“A criação do parque nacional vai trazer uma enorme projeção para Santa Vitória do Palmar e o extremo sul do Brasil, e isso vai se reverter a curto prazo numa promoção muito grande do ecoturismo, gerando mais empregos e renda de qualidade”, diz.

Truda explica que a proposta não proíbe o acesso de pessoas e veículos à praia. Segundo ele, o parque nacional não vai ser gerido pelo ICMBio, e sim por um conselho gestor que será composto por lideranças da comunidade local. Ele diz ainda que o parque nacional também não vai inviabilizar a existência de parques eólicos offshore, nem a exploração de gás e petróleo na Bacia de Pelotas.

A consulta pública do dia 29 de abril acontece no Campus Carreiros da Furg, em Rio Grande, às 14h. A consulta do dia 30 está prevista para acontecer no auditório do LaTur Furg- Campus Santa Vitória do Palmar, também às 14h.