Fotografia

Batalha de Lambe-sujos e Caboclinhos está em exposição em Pelotas

Fotógrafo Samyr Tuff apresenta o Mel de Cabaú, em preto e branco, na 4 Galeria de Arte

Mariana Rachinhas - Especial DP - Exposição estará aberta ao público até o dia 8 de maio

Anualmente, turistas são atraídos às ruas de arquitetura colonial da cidade de Laranjeiras, interior de Sergipe, para a Festa dos Lambe-sujo e Caboclinhos, encenação a céu aberto que reedita os conflitos históricos entre negros escravizados fugidos e indígenas cooptados para capturá-los. O evento, que é considerado uma das maiores manifestações de teatro espontâneo do mundo, é o objeto da exposição Mel de Cabaú, do fotógrafo Samyr Tuff, aberta a visitação desde o último domingo na 4 Galeria de Arte, em Pelotas.

Nascido na Bahia, Samyr Tuff assistiu à “batalha” entre Lambe-sujos e Caboclinhos pela primeira vez em 2012, enquanto estudante da Universidade Federal de Sergipe. Retornou a Laranjeiras em 2019, quando já residia no Rio Grande do Sul, para capturar por suas lentes fotográficas essa representação histórica.

Antes de expor em Pelotas, onde estará na 4 Galeria de Arte até o dia 8 de maio , Mel de Cabaú esteve à disposição do público em Caxias do Sul, durante 30 dias. Os registros em preto e branco buscaram privilegiar a visão do artista em relação ao embate entre caboclinhos, com seus cocares e pinturas em vermelho pelo corpo, e os lambe-sujos, com seus gorros.

“Ao substituir todo esse universo de cores [de caboclinhos e lambe-sujos] para luz e sombra, pude contemplar toda a atmosfera do evento. Fotografar em preto e branco para mim é como enxergar a alma, um retorno à essência, à gênese da luz e da sombra. Essa escolha se tornou parte da minha identidade artística”, justificou Samyr, que além de fotógrafo, é publicitário e cineasta.

A exposição é gratuita, segundo o fotógrafo, para cumprir o “objetivo de compartilhar essa história e essa manifestação com o maior número possível de pessoas”, com a ideia de finalizar a exposição em Laranjeiras em outubro, passando por outros municípios de diferentes regiões do Brasil.

Samyr considera importante a difusão desta expressão cultural, uma das mais significativas do Sergipe, no Rio Grande do Sul, onde muitas vezes a tradição indígena e negra são “esquecidas” pela população gaúcha. “Muitas pessoas desconhecem os detalhes, povos indígenas que foram dizimados pelo Estado, mas que, como diz Fernanda Kaingang, continuam resistindo”, relata.

“Além disso, como forma de castigo, alguns negros escravizados do Nordeste eram enviados para passar frio em Pelotas, nas charqueadas, o que cria uma conexão direta com a exposição. Portanto, a presença da exposição em Pelotas e no Estado como um todo desafia refletir sobre esses Brasis, sobre questões de justiça social e igualdade em nosso tempo”, completa Samyr.

Dar destaque à cultura que é, por vezes, apagada das mais diferentes formas pela sociedade brasileira de visão eurocentrista, é a busca do artista, que considera o resultado bastante subjetivo ao público. “De maneira individual, cada imagem é como uma pedra lançada em um lago, provocando reflexões únicas e pessoais em cada espectador, cada uma delas contribuindo para um impacto singular e profundo”, aponta.

A exposição contou com a participação de múltiplas mãos, destaca Samyr, inclusive com uma vaquinha virtual para arrecadar os fundos utilizados para a impressão das obras. O projeto expográfico é de Rafael Muller, e junto às fotografias é exibido um documentário, com participação de Michelle Santana e Patativa.

Curadora e proprietária da 4 Galeria de Arte, Mariana Rachinhas considera a exposição um “manifesto em prol da cultura e resiliência do povo brasileiro”. “Quando conhecemos o trabalho do Samyr, não tivemos outra escolha que não trazê-lo. É uma potência tão grande que toca no fundo da alma, deste contexto cultural e histórico muito forte, e a gente fica muito feliz de ter a exposição dentro da Galeria, localizada em um espaço muito forte para a história da nossa cidade”, avalia.

A 4 Galeria de Arte e Café está localizada na Rua Santos Dumont, 125 (entre Floriano e Sete de Setembro), e está aberta de segunda a sexta, das 9h30min às 20h, e nos sábados, domingos e feriados, das 14h às 22h.

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