Caderno Saúde

Dengue: do diagnóstico ao tratamento, gravidade da doença pode ser evitada

Em Pelotas, já foram registrados 137 casos da doença e o primeiro óbito confirmado; sem vacina, tratamento médico adequado é indispensável nos primeiros sinais da infecção

No início desta semana, foi registrada a primeira morte causada pela dengue no âmbito da 3ª Coordenadoria Regional de Saúde, que compreende 21 municípios da região sul. O óbito ocorrido em março em Pelotas acende um alerta para os riscos quando há evolução da gravidade da doença, assim como para a importância do diagnóstico rápido e o manejo dos cuidados adequados enquanto perdurarem os sintomas. Ao DP, a médica infectologista Danise Senna explica quais os principais sinais da infecção por dengue, os grupos mais vulneráveis e o que a patologia causa no corpo.

Apesar da sazonalidade de proliferação do mosquito estar chegando ao fim com a redução das temperaturas, no final do ano, mais um período de epidemia de dengue deverá ocorrer com a chegada do verão. Sem a disponibilidade de vacinas para todo o País - o Rio Grande do Sul ainda não recebeu o imunizante -, e sem um tratamento específico para a doença, a população tem que investir na proteção individual, com repelentes e nas ações de combate ao mosquito. Já nos primeiros sintomas de dengue, é essencial manter-se hidratado e procurar a assistência médica o mais breve possível.

A dengue é uma doença febril aguda causada pelo vírus transmitido por meio da picada do mosquito fêmea do Aedes aegypti. De acordo com o Ministério da Saúde, a maioria dos contaminados se recuperam. No entanto, parte deles podem progredir para formas graves, inclusive podendo vir a óbito. A quase totalidade das mortes por dengue é evitável e depende, na maioria das vezes, da qualidade da assistência prestada pelos serviços de saúde.

Conforme a infectologista Danise Senna, há quatro sorotipos de dengue - DENV-1, DENV-2, DENV-3 e DENV-4 - e qualquer um deles pode culminar na gravidade da infecção. A médica destaca ainda que um dos principais fatores que pode causar a progressão maior é quando o paciente é infectado pela dengue mais de uma vez. "Quando se tem dengue você só fica imune a aquele sorotipo, quando pela segunda vez a dengue é por outro sorotipo, ela pode ser mais grave". Além disso, outros grupos como crianças, idosos, pacientes com comorbidades e imunodeprimidos são mais propensos a serem acometidos mais intensamente pelos sintomas.

A infecção
O período de incubação do vírus pode levar de três a cinco dias e depois de iniciado os sintomas, a doença pode durar de sete a 14 dias, como explica Danise. "É variável de pessoa para pessoa, quando a condição é leve, o período fica no entorno de sete dias, quando há o estado mais greve o período de acometimento é estendido". Já no corpo, a infecção causa a lesão dos vasos sanguíneos causando uma permeabilidade vascular. "Então perde-se líquido, plasma para o tecido que está fora da célula e com isso o paciente fica desidratado. Por isso temos que hidratar o paciente. O que ele sente é um grande mal estar causado pela desidratação".

A infectologista detalha que a diminuição de líquidos dentro dos vasos sanguíneos é a causa dos casos graves. "Outra coisa que acontece é a presença de sangramento porque quando a permeabilidade é muito grande, não sai só água dos vasos sanguíneos, pode se perder sangue e hemoglobina junto". A médica ressalta que é uma série de fatores que pode levar à morte, mas entre os principais elementos estão o choque cardiovascular e o hipovolêmico, uma intercorrência emergencial causada pela perda, em grande quantidade, de líquidos e sangue, são os principais.

Diagnóstico
Para a confirmação de um caso de dengue, no atendimento médico, é pedido um hemograma. "[Um parâmetro] bem importante para ver é o hematócrito, porque se tiver aumentado tem a indicação de internação. As pessoas focam muito nas plaquetas, mas os hematócritos são a principal medida", menciona Danise.

De acordo com a infectologista, até o quinto dia de sintomas é realizado um teste rápido que se chama NS1ag. "O resultado é na hora e ajuda bastante no tratamento". A partir do 6º dia o método utilizado é a sorologia para a dengue, a testagem é retroativa porque há um período maior de espera para o resultado.

Tratamento
Em casos leves de dengue, o tratamento é uma intensa hidratação, que pode ser realizada em casa mesmo. Já quando a doença é mais grave, o paciente é internado e a reposição de líquidos é realizada na veia. "O tratamento é repor líquido para ganhar tempo enquanto o vírus faz essa passagem para ir embora". A infectologista destaca que o infectado pela dengue tem que ter a atenção redobrada quanto a medicamentos, o ácido acetilsalicílico (AAS) e anti-inflamatórios em geral não devem ser tomados devido a chance que há desses fármacos aumentarem os sangramentos.

Recomendações do Ministério da Saúde para o tratamento da dengue:

- Repouso;
- Ingestão de líquidos;
- Não se automedicar e procurar imediatamente o serviço de urgência em caso de sangramentos ou surgimento de pelo menos um sinal de alarme;
- Retorno para reavaliação clínica conforme orientação médica.

Sintomas
Toda pessoa que apresentar febre (39°C a 40°C) de início repentino e apresentar pelo menos duas das seguintes manifestações:

- dor de cabeça, prostração, dores musculares e/ou articulares e dor atrás dos olhos - deve procurar imediatamente um serviço de saúde.
- dor abdominal (dor na barriga) intensa e contínua;
- vômitos persistentes;
- acúmulo de líquidos em cavidades corporais (ascite, derrame pleural, derrame pericárdico);
- hipotensão postural e/ou lipotímia;
- letargia e/ou irritabilidade;
- aumento do tamanho do fígado (hepatomegalia) > 2cm;
- sangramento de mucosa; e
- aumento progressivo do hematócrito.

Combate a doença
Sem a disponibilidade de vacinas para toda a população e de antivirais no mercado, Danise estima que o País só alcançará um bom controle da doença na próxima década. "Quando falamos em dengue, falamos em um tripé que é importante: prevenção com vacina e por meio do controle do mosquito e tratamento através de antivirais, que a gente ainda não tem comercialmente".

Atualmente, no Hospital Escola da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), conforme Danise, duas vacinas estão sendo testadas, assim como antivirais. "Uma que é do Butantan, em fase 3, que deve sair algum resultado definitivo ainda neste ano e talvez em 2025 já esteja disponível. E outra da merck, que está na fase 2 ainda. Mas temos perspectivas de termos novos produtos para o mercado no próximo ano. Já temos alguns antivirais em fase final de estudo".

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