Apagão

21 dias depois e moradores do interior de Arroio Grande continuam sofrendo com a falta de energia elétrica

Sem previsão de restabelecimento, os relatos são de sensação de abandono e descaso; enquanto isso, prejuízos domésticos e na produção rural acumulam

Foto: Jô Folha - DP - Família contabiliza transtornos e prejuízos com três semanas sem luz

Os efeitos do apagão que prejudicou os municípios da Zona Sul nas últimas duas semanas continuam sendo uma realidade enfrentada por moradores do interior de Arroio Grande. Sendo a maioria pequenos produtores rurais, o desconforto e os transtornos causados pela falta do serviço essencial, há três semanas, se somam aos prejuízos das perdas na produção. Diante da situação, um grupo chegou a acampar na frente da agência de atendimento da CEEE Equatorial, na segunda-feira. Mesmo assim, a mobilização parece não ter surtido nenhum efeito. Conforme relatos, somente no assentamento Chasqueiro há cerca de 90 pessoas sem luz.

Impossibilitados de tomar um banho quente, lavar roupa, cozinhar de maneira adequada ou mesmo assistir televisão: assim têm vivido os moradores da localidade que fica a cerca de 20 quilômetros de distância da zona urbana de Arroio Grande. Na manhã de quarta-feira (10), os residentes chegaram a comemorar o retorno da energia. Porém, dez minutos depois o apagão voltou a ser realidade.

Na casa do produtor Alvim Corrêa Filho, o barulho ensurdecedor do gerador que funciona para o resfriamento dos tanques de leite se tornou comum aos ouvidos da família. Mesmo com o auxílio da máquina, já foram perdidos mais de três mil litros do produto e o volume só não é super porque a cooperativa tem transportado o produto diariamente. "Estamos trabalhando para ter prejuízo, porque nós sabemos que 80% das vezes o nosso produto vai fora". Ele conta ainda que havia um gerador maior, mas que devido ao extenso tempo trabalhando acabou queimando.

Com 57 anos, o agricultor tem dedicado quase toda a sua vida a trabalhar com a produção rural e nesse tempo todo ele afirma que nunca tinha passado por uma situação de abandono tão grande. Os sentimentos de indignação e de invisibilidade pelo poder público tomam conta de Corrêa Filho ao relatar a situação. "É um marasmo, fica tudo por isso mesmo, nós estamos passando por uma fase de marginalização, os caras já sentem vergonha de ser produtor rural, onde era para ter orgulho. Nunca passamos por uma situação tão vexaminosa de descaso".

Ao lado do marido, ao contar sobre as dificuldades enfrentadas no lar e com o filho Benjamin, de cinco anos, que tem síndrome de Down, Silvia Rodrigues acaba se emocionando e relata entre lágrimas como é a sensação de desassistência. "A gente se criou lavando roupa na sanga, com anos de luta compramos uma máquina e não tem como lavar nada, a gente está pagando as prestações e não pode usar. A criança quer o suco gelado e não tem como levar para o colégio. Ele tem o costume, todos os dias ele gosta do suquinho dele".

"Estão nos tratando como se nós fosse lixo", complementa o marido. Sobre os prejuízos na produção, Corrêa Filho contabiliza mais de R$ 10 mil, sem contar os gastos com os geradores e a ração do gado. "Só de combustível deu R$ 1.170,00, vamos tentar economizar um pouco e o leite estraga. Fomos abandonados pelo Executivo, pelo Judiciário e pelo Legislativo. Não tem como aguentar mais tempo assim".

De acordo com os relatos da família, somente no assentamento Chasqueiro havia mais de 90 pessoas sem energia. Já nos assentamentos Estiva e Porteiro da Torre seriam 85 famílias. Vizinha dos produtores, Aline Fernandes conta que ficou 17 dias seguidos sem energia e que a luz retornou durante dois dias e novamente faltou. "Está bem difícil, botei carne fora porque não temos gerador, iogurte das crianças também. A gente vai lá, liga todos os dias e eles dizem que não tem nenhuma reclamação daqui". Ela conta ainda que na escola da região também não há eletricidade. "Semana passada não tinha nem água. Parece que a gente voltou no tempo, estamos que nem antigamente".

A reportagem tentou contato com a CEEE Equatorial, mas não obteve retorno até o fechamento desta edição.

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