Transtorno de comunicação social

Entenda esse quadro muitas vezes confundido com outros diagnósticos

Dificuldade primária com o uso social da linguagem e da comunicação pode atrapalhar de forma muito enfática o convívio social

Foto: Divulgação - DP - Durante os atendimentos são realizadas atividades para treinar as habilidades sociais d acriança

Já ouviu falar sobre crianças com dificuldades para se comunicar, mesmo conseguindo e já sabendo falar? Que não reconhecem o uso da linguagem em seu próprio contexto e junto com isso ainda podem apresentar problemas para se relacionar com outras pessoas? Se por acaso já ouviu esses sintomas, então provavelmente já conheceu alguma criança que apresente o transtorno da comunicação social (TCS).

Esse tipo de transtorno apresenta essas dificuldades, que costumam surgir logo nos primeiros anos e podem ser diagnosticadas ainda durante a infância, conforme explica a fonoaudióloga Luise Marques da Rocha. “Algumas características começam a aparecer quando bem pequenos, como por exemplo aquela criança que brinca perto, mas não junto com os outros. Faz uma comunicação com os pais, mas não se dirige para outras pessoas com medo que eles não entendam, já que para eles essas ações que seriam comuns são tão difíceis, eles começam a evitar.”

Luise explica ainda que o TCS é caracterizado por dificuldades persistentes com o uso da linguagem verbal e não verbal que acabam impactando na interação e compreensão social, no processamento de linguagem e na compreensão do contexto em que estão inseridas.

Ela explica ainda que, para essas crianças diagnosticadas, existe dificuldade em reconhecer o uso da linguagem em seu próprio contexto, podendo gerar problemas de relacionamento. “Muitas vezes essas crianças relatam que são excluídas por outras crianças e até mesmo por adultos por não compreenderem o que elas falam ou como se expressam, que podem participar de determinadas atividades, porque ela afeta diretamente a compreensão e a forma que será expressa essa linguagem".

A fonoaudióloga explica que as crianças apresentam melhoras com o tempo e conforme o tratamento vai avançando, quando não ocorre este diagnóstico precoce, as dificuldades podem ser mantidas e os prejuízos podem ser duradouros no comportamento, nas relações sociais e em outras habilidades, até mesmo se agravando com a idade adulta. “Na terapia, nós vamos criando situações que são comuns no dia a dia desse paciente, o que ele vivencia na escola, no clube, em um shopping, na pracinha, em uma conversa com um grupo de crianças. Então o meu trabalho, junto com outros profissionais, vão treinando essas situações em que se faz necessário o uso de habilidades sociais.”

Diagnóstico correto
O TCS foi anteriormente considerado parte do Transtorno do Espectro do Autismo (TEA), mas hoje em dia seus sintomas recebem um diagnóstico independente. De acordo com a pedagoga, psicóloga clínica e especialista em terapia cognitiva-comportamental Suelen de Lima Bach, uma das principais diferenças entre os transtornos é que as crianças com autismo têm dificuldades de comunicação, mas também apresentam outros comportamentos, como por exemplo os estereotipados, típicos do TEA. “O TCS faz parte do grupo de transtornos do neurodesenvolvimento que são doenças bastante complexas, não quer dizer que crianças diagnosticadas com TEA não possam vir a ter o TCS. Podem, mas nem toda criança com transtorno de comunicação recebe o diagnóstico de autismo. Por isso o acompanhamento e o diagnóstico multidisciplinar são muito importantes”, alerta.

Para que não haja um diagnóstico de crianças com o transtorno da comunicação social equivocado com o de autismo, a psicóloga salienta que é importante avaliar os comportamentos, que são comuns nas pessoas com diagnostico de TEA e assim ir descartando hipóteses. “Não se deve apressar o diagnóstico de TEA já com os primeiros sintomas. É necessário um olhar atento e aprofundado daquela criança e do ambiente que ela está em contato.”

Um diagnóstico correto permitirá um melhor resultado no tratamento e ajudará de forma mais eficiente no tratamento para o TCS. Suelen explica que aprender e desenvolver habilidades de comunicação são importantes ferramentas para um bom desenvolvimento e interação na escola, em casa e na vida social. Caso não ocorra esse acompanhamento, essas crianças podem ter comprometimento inclusive na leitura e escrita, além de problemas comportamentais. “Como muitas vezes essa criança não consegue se encaixar nas atividades propostas, o contato com o meio ou com os objetos acaba sendo mais interessante. Eles não querem ficar sentados, parados ou realizando uma atividade que, para eles, não faz sentido, pois não compreenderam. O que algumas vezes pode vir a ter um falso diagnóstico de hiperatividade, por exemplo. É muito importante buscar um bom profissional ou mais de um para fazer uma avaliação detalhada e que essa equipe entenda como tratar esse transtorno”, orienta.

Suelen explica que, assim como o diagnóstico, o tratamento que realiza é para preparar não só a criança para vivenciar sua rotina com o diagnóstico de TCS, mas todos que com ela convivem, como os familiares, cuidadores ou a equipe escolar. “Meu papel é instrumentalizar a família e todos que convivem com as crianças, todos que devem ser facilitadores para que essa comunicação ocorra. Através das terapias, vamos treinando as habilidades e por meio de brincadeiras e na rotina com narração, aonde vamos vivendo a cena e descrevendo tudo que está sendo feito, vamos reproduzindo a vida real.”

Comportamentos presentes no TEA a serem observados para diferenciar o diagnóstico:
- Maior agitação e inquietação em situações sociais;
- Movimentos corporais repetitivos, como balançar, bater, pular girar ou mesmo dificuldades na coordenação motora;
- Padrão inflexível em rotinas e rituais, maior dificuldade com mudanças de rotina;
- Repetição excessiva de sons, sílabas, palavras e/ou frases;
- Sensibilidade sensorial extrema;
- Dificuldade para lidar com qualquer interrupção na rotina.

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