Reumatologista pediátrico

Conheça a área que estuda as doenças reumáticas na infância e adolescência

O profissional tem o papel de diagnosticar, avaliar e tratar doenças relacionadas a articulações, ossos, tendões, ligamentos e músculos em crianças e adolescentes

- O reumatologista pediatra é a peça-chave no tratamento de doenças reumatológicas de grande impacto na vida infantil

Muitas pessoas associam as doenças reumáticas ao avançar da idade, quando as dores nas articulações e o reumatismo começam a fazer parte da rotina de alguns idosos. Mas existem diferentes doenças reumáticas com sintomas, características e prognósticos bastante diversos.

Entre elas estão as doenças reumáticas da infância, que conforme explica a reumatologista pediátrica Juliana Russo Simon, podem surgir muito cedo e merecem uma atenção redobrada, pois as consequências vão além das articulações. “As pessoas acham que o reumatologista só vê o reumatismo, que é o nome popular de artrite reumatoide, que é a artrite crônica, aquela clássica do adulto, mas não é bem assim. A reumatologia infantil é a área da medicina que estuda as doenças reumáticas na infância e adolescência. Se entende por doença reumática todas as condições que afetam o tecido conjuntivo, ou seja, as articulações, músculos, ossos, tendões e ligamentos”, explica.

Na infância e nos jovens, as doenças mais conhecidas são a artrite idiopática juvenil e o lúpus eritematoso sistêmico juvenil. Se não tiverem o diagnóstico e tratamento precoce, podem acabar comprometendo a saúde e qualidade de vida destes pacientes quando na idade adulta. “Muitas doenças podem deixar sequelas para a vida toda, algumas irreversíveis, que além de deixar as articulações tortas e sem função, pode também levar silenciosamente a um quadro de cegueira por inflamação crônica dos olhos”, alerta a reumatologista.

Artrite idiopática juvenil
Relativamente rara, a artrite idiopática juvenil é apenas uma das centenas de tipos de artrites que podem afetar as crianças e os adolescentes. A doença acomete normalmente mais meninas que meninos e até os 16 anos. Sendo os picos de maior incidência entre um a cinco, e dos dez aos 14 anos de idade.

Além das articulações, a artrite idiopática juvenil afeta outras partes do corpo da criança. Podendo durar anos, com períodos de remissão e atividade. O paciente tem dores e febre, conforme alerta Juliana. “Na reumatologia pediátrica, a maioria das doenças são crônicas, que quer dizer que são para vida toda. É preciso tirá-las de atividade. Eu sempre digo que a ideia não é nem botar a doença pra dormir, mas sim deixá-la em coma. Mas como são doenças crônicas, é possível que ao longo da vida a doença ‘acorde’ e a pessoa apresente novas crises.”

Lúpus eritematoso sistêmico juvenil
É uma doença autoimune sistêmica que acomete crianças e adolescentes com idade inferior aos 18 anos, podendo ser diagnosticada em qualquer idade, mesmo em lactentes. Existe predominância do sexo feminino em relação ao masculino em todas as faixas etárias pediátricas. Caracterizada pelo acometimento concomitante ou evolutivo de vários órgãos e sistemas, costuma se manifestar de forma imprevisível e a principal característica desta doença crônica inflamatória é a variabilidade das manifestações clínicas e a produção de múltiplos auto-anticorpos.

Como tratar?
As doenças reumáticas podem se apresentar de diversas formas e compreendem um espectro amplo de formas de manifestações que vão desde inflamações nas articulações, podendo apresentar febre de causa desconhecida, comprometimento de órgãos como pele, olho, pulmão, coração e rim. Mas, em alguns casos, o principal sintoma costuma ser a artrite. “Cada doença pode ter uma abordagem específica e o tratamento deve ser individualizado para cada paciente, muitas vezes os sintomas são parecidos, mas mudam muito as doses e protocolos de tratamento, especialmente em se tratando dos imunobiológicos, que são medicações muito específicas e direcionadas, visando um ponto muito específico de desorganização no sistema imune. Essas opções são mais limitadas para as crianças e adolescentes”, explica a reumatologista.

Segundo a reumatologista, todas as doenças são possíveis de tratar, mas tudo irá depender de quando a doença foi diagnosticada, pois o tratamento é realizado com medicações que irão controlar as inflamações e dessa forma suspender os sintomas. ”As doenças têm tratamento e esse tratamento visa o seu controle, que chamamos de remissão.” O especialista destaca, ainda, que um atraso neste início pode provocar lesões articulares que podem ser irreversíveis na criança. “Quanto mais precoce for feito o diagnóstico, o tratamento especializado terá melhor resultado.”

SBP
De acordo com a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), as doenças reumáticas têm um impacto negativo em várias dimensões da vida de crianças de zero a 18 anos, incluindo incapacidade física, desgaste emocional, desajuste social e diminuição da escolaridade. Cerca de 25% das doenças reumatológicas ocorrem em pessoas menores de 16 anos.

Sintomas
A identificação precoce das doenças reumáticas e os tratamentos adequados de acordo com cada diagnóstico individualizado é fundamental para que as crianças não apresentem sequelas permanentes e condições que possam prejudicar o crescimento e desenvolvimento do indivíduo. Entre elas, estão enfermidades autoimunes, degenerativas e desgastes.

“Diante da presença de alguns destes sinais, a criança deve sempre ser avaliada por um reumatologista infantil o mais breve possível a fim de evitar danos maiores. Existem também outras indicações que sinalizam a necessidade de procurar um reumatologista, muitas advêm de alterações em exames encontradas pelo pediatra ou oftalmologista, por exemplo” , alerta Juliana.

Toda criança deve passar por uma avaliação especializada, caso exista a presença de algum dos seguintes sinais ou sintomas:
- Dores articulares ou dores nas costas, referidas de forma constante;
- Articulações acometidas com aspectos alterados, como inchaço, calor ou vermelhidão no local;
- Dores persistentes ao longo de braços e pernas;
- Febre persistente sem causa aparente há muitos dias, ou recorrente e periódica;
- Perda de peso ou atraso no crescimento;
- Prostração por cansaço ou modificação do padrão normal das atividades da criança;
- Fraqueza muscular;
- Depressão;
- Queixas visuais;
- Incapacidade de fazer tarefas do dia a dia que eram executadas facilmente anteriormente, tornando-se sempre dependente de outros adultos, motivo que restringe suas atividades;
- Quedas e tropeços frequentes;
- Pedido constante de colo;
- Alterações na postura;
- Aftas na boca ou genitais que se apresentam de forma repetitiva (mais de três vezes ao ano);
- Manchas na pele associadas ou não a quadros febris, principalmente as que ficam mais fortes ao tomar sol;
- Rigidez para se movimentar, principalmente pela manhã;
- Alterações persistentes em exames de rotina, como por exemplo anemia ou queda de glóbulos brancos;
- Perda de cabelo abundante.

Há pouca informação sobre a especialidade
Em 2022, após uma viagem de cruzeiro, foi quando Janice Velasco Casalinho, mãe de Bernardo, então com quatro anos, percebeu que o filho estava mancando. Mas, na época, imaginou que poderia ser consequência de uma viagem de férias bastante divertida, mas também muito longa e cansativa. Percebendo que Bernardo não estava normal e o quadro bastante persistente com as queixas de dor, a mãe começou a desconfiar. “Minha primeira ação foi procurar um médico traumatologista. Foi o primeiro profissional que me ocorreu. Levamos ele ao médico aqui e em outros dois em Porto Alegre, cada um deles deu um diagnóstico possível e diferente, mesmo com exames de imagens. Usamos anti-inflamatórios recomendados, mas ele seguia se queixando de dor”, relembra.

A mãe conta ainda que, após um ano, havia períodos em que no final do dia Bernardo caminhava somente com um pé em decorrência da dor que sentia, mas ainda assim suportava, caminhava, brincava e corria diariamente. “Ele é super ativo, aguentava a dor, não reclamava tanto o tempo todo, só quando ele já não aguentava mais. Percebemos que tinha um caroço em cima do pé, que foi um cápsula que se formou com inflamação dentro. As dores, quando ele relatava, eram quase sempre no final do dia, após correr e brincar bastante”, conta Janice.

No inicio de 2023, a mãe estava decidida a descobrir o que o filho apresentava. Mesmo resistente ao exame recomendado, que necessitava sedação, buscaram novos profissionais para tentar entender melhor os sinais e sintomas. “Todos os médicos me diziam que somente com um exame de ressonância que, para realizar, era preciso o Bernardo estar sedado. Eu estava com muito medo, mas entendemos que era o melhor e foi o que fizemos. Só assim descobrimos que ele estava com o pé todo inflamado. Cartilagem, tendões, ossos, estava tudo inflamado, foi diagnosticada uma fratura por estresse e ele precisou usar bota por um mês. O médico explicou que assim iria regenerar e voltar ao normal”, conta.

O que a mãe não imaginava era que o atraso em iniciar o tratamento correto com o profissional recomendado poderia trazer tantos danos ao filho, a ponto de ter que reaprender habilidades que já faziam parte da sua rotina. “Ele usava a botinha até para tomar banho de piscina. Um mês depois de usar junto com o anti-inflamatório, o exame apresentou novamente o mesmo resultado. O Bernardo desaprendeu até a andar, esqueceu e não conseguia mais caminhar. Foi um desespero para todos porque antes, mesmo com dor, ele brincava o tempo todo, até corria. E o próprio traumatologista recomentou a procura por um reumatologista pediátrico.”

A mãe conta que já na primeira consulta ao reumatologista a família recebeu o diagnostico de artrite idiopática juvenil, que inicialmente assustou bastante não só pelo diagnóstico, mas também pela forma que o tratamento é realizado. “Ficamos em desespero, pois o tratamento é feito através de injeções semanais. Ele é bastante pequeno, ficamos assustados. Mas hoje em dia, cinco meses depois, ele está super bem, a lesão do pé já diminuiu muito, já estamos no processo de remissão da doença, mas estamos sempre monitorando por exames”, explica.

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