Saúde da mulher

Menopausa, um período que merece atenção e mais conhecimento das mulheres

A chegada dos sintomas da menopausa pode parecer assustadora, mas não precisa ser

Foto: Divulgação -

As mulheres vivenciam diversas transformações ao longo da vida. A menopausa é mais uma delas, sendo marco importante para o ser feminino. Às vezes chega trazendo medos, dúvidas, desafios, dores e sofrimento para algumas.
Alguns anos atrás, a menopausa era caracterizada como um período de instabilidade física e emocional. Hoje, porém, já é possível buscar alternativas eficientes para este momento no mundo feminino, sem necessariamente vivenciar esses desconfortos. Pois este período marca a maior parte da vida adulta da mulher, conforme afirma José Augusto Crespo Ribeiro, Ginecologista e Professor da Universidade Federal de Pelotas (UFPel). “Hoje em dia acredita-se que mais de um terço da vida da mulher se passa na menopausa, além de ser um marco muito importante, como perda da habilidade reprodutiva. É preciso que as mulheres saibam o máximo de informações sobre esse momento para manejar da melhor forma possível.”

Todas as mulheres, quandonascem, trazem em seu organismo uma quantidade finita de óvulos, que é desenvolvida e utilizada ao longo da vida, em cada ciclo menstrual. Na prática, o que acontece com o organismo feminino no momento da menopausa é que os ovários estão chegando ao final dos óvulos disponíveis. Quando deixam de existir óvulos para desenvolver, eles param de produzir quantidades de estrogênio e de outros hormônios inferiores. É essencialmente a diminuição deste hormônio que causa a maioria dos sintomas associados à menopausa.

A menopausa corresponde ao fim do período reprodutivo feminino e pode ser confirmada após 12 meses consecutivos de ausência da menstruação e em consequência a diminuição dos hormônios, sendo então o marco para o fim do período reprodutor. O primeiro sinal da transição geralmente é uma modificação nos ciclos menstruais, que costumam se tornar mais ou menos frequentes e o fluxo pode alternar entre mais leve ou intenso. Este marco pode perturbar mulheres com diversos sintomas como ondas de calor, transpiração noturna, insônia e mudanças de humor. “As mulheres não precisam sofrer em silêncio, hoje em dia se tem muitas opções de tratamento disponíveis”, enfatiza o ginecologista.

Em teoria, só é possível afirmar que foi a última menstruação se a mulher tiver ficado mais de um ano sem menstruar naturalmente. Antes disso o corpo começa a dar alguns sinais, gerando ciclos menstruais irregulares que geralmente acontecem dois a quatro anos antes de entrar na menopausa, denominado o climatério, quando além da irregularidade menstrual surgem outros sintomas pela falta de hormônio.

Diferença entre menopausa e climatério
O período que antecede a menopausa é chamado de climatério. É neste momento que ocorre a diminuição da produção dos hormônios e funcionamento dos ovários, com alguns desequilíbrios começando a acontecer. Este também é conhecido como o primeiro estágio até a chegada oficial da menopausa. “Este período inicia normalmente por volta dos 40 anos até chegar a menopausa, que irá se estender até após a parada das menstruações. Inclusive se divide em climatério pré e pós menopausa, para tratarmos os sintomas”, diz Ribeiro.

Importante lembrar que neste período denominado climatério, as alterações hormonais já começam a aparecer, assim como a queda na produções dos hormônios, mas isso não impossibilita do funcionamento normal do aparelho reprodutor. “A mulher terá uma capacidade reprodutiva reduzida e os ciclos podem ser irregulares. Nem sempre a mulher irá ovular, mas pode ocorrer uma gravidez, então há necessidade de fazer uso de contraceptivo também neste período”, lembra o médico.

Já quando os ciclos menstruais não estão mais presentes, sendo acompanhado e diagnosticado pelo médico como menopausa, o ginecologista explica que este é um momento em que não ocorrerá uma gestação. “A menopausa é causada pela parada de funcionamento dos ovários. Os óvulos param de ser produzidos, de forma que a mulher não engravida mais. Como consequência, os ciclos menstruais cessam, vindo a menopausa, que é a última menstruação da vida da mulher”, explica o ginecologista.

Com a queda dos hormônios, é comum que comecem a aparecer os primeiros sintomas de desconforto que acompanham a menopausa, mas segundo Ribeiro, todos eles podem ser contornados, desde que acompanhados por um médico que possa orientar a paciente sobre qual o melhor tratamento e reposição. “Com a queda do estrogênio, começam a aparecer os fogachos, a secura vaginal, sintomas urinários como ardência ou perda de urina, a pele pode ficar mais ressecada, assim como perda de massa óssea. Irritabilidade, insônia, diminuição da cognição são alguns sintomas”, esclarece.

A idade média em que as mulheres entram na menopausa é 50 anos, sendo considerado normal a partir dos 40 anos. Antes disso, é chamada de menopausa precoce, destaca o ginecologista. Além disso, o médico lembra que a maioria das mulheres não passa de 55 anos sem ter entrado na menopausa, mas não há uma idade limite. “Essa variação da época não é determinada geneticamente mas pode sofrer influências do estilo de vida. O estresse e o tabagismo podem favorecer a antecipação deste período”, conta. O médico explica ainda que umas das preocupações é com o ganho de peso, que costuma ocorrer com algumas mulheres, mas que não é um regra para todas. “Como existe uma perda de massa muscular, perda da massa magra e do tecido adiposo, além dos desequilíbrios hormonais existe também uma questão referente a idade”, explica.

Tratamentos
O ginecologista explica que a terapia hormonal com adesivos e gel, por exemplo, ajuda com as ondas de calor, transpiração noturna e sintomas na região genital. “É preciso consultar o médico, falar sobre os sintomas e procurar a melhor forma para passar por esse período. As mulheres podem seguir com os médicos que já as acompanham, isso possibilita que tenham uma abertura para falar, pois já confiam neles. O que não podem é ficar sentindo os sintomas e não buscar resolver, não precisam sentir nada. É muito difícil a mulher que não busca uma orientação, um tratamento, e passa pela menopausa sem sintomas. Cerca de 85% das mulheres vão ter algum sintoma, quando não tiver sintomas iremos tratando esta menopausa conforme a necessidade”, orienta.

Quando por alguma patologia, a mulher não possa realizar a reposição hormonal, o ginecologista explica que é possível atuar em cada sintoma apresentado. “Podemos sempre melhorar a sintomatologia, não existe necessidade de passar trabalho, é sempre importante individualizar o tratamento”, explica.

Autoconhecimento
Conhecer o próprio corpo é essencial para a chegada e atravessar a menopausa. Iniciar este período completamente sem saber o que irá enfrentar, sem saber o que ocorrerá com o corpo, as consequências físicas, mentais e emocionais, pode ser muito mais traumático. Foi com este pensamento determinado a não passar trabalho neste período que Flávia Xavier Barros, 45, vem encarando as mudanças hormonais. Alterações no ciclo menstrual, cólicas e um desânimo para realizar atividades físicas, uma das prioridades que têm em busca de uma vida mais saudável, além de uma alimentação vegetariana.

“Eu às vezes sinto que, quando vou correr, parece que não consigo levantar os pés do chão.São os dias que eu fico mais atenta ao meu corpo e entendo que possa ser uma queda nos hormônios. Teve meses que tive cólicas muito fortes, uma coisa que nunca tinha me acontecido. Eu me considero uma pessoa muito forte para dor e não costumo tomar medicação alguma para nada.Tive dois partos normais, mas essa dor realmente é algo bem absurdo”, relata.

Flávia conta que faz cinco anos que optou por uma alimentação sem carne e junto a isso não faz mais uso de anticoncepcional. Após uma consulta ginecológica e análise de exames e taxas hormonais estarem controladas, optou por mesmo neste período não fazer uso de hormônio. “Quando fui consultar no ginecologista e ele me explicou que eu estava entrando na menopausa, disse a ele que não passaria trabalho nesse período e assim eu tenho encarado desde então.”

O ginecologista enfatiza que, certamente, conhecer mais sobre o próprio corpo e as alterações às quais ele sofrerá ao longo da vida torna mais fácil a passagem pela menopausa. “A proximidade com o ginecologista, que orienta sobre quais os sinais e sintomas que a mulher pode apresentar, facilita a aceitação e o tratamento. Quando ela está determinada em não passar pelos sintomas, com certeza irá buscar alternativas para melhorar.”

Reposição hormonal
A reposição hormonal é um grande aliado nessa fase da mulher. Mas deve ser uma orientação individual e sempre com acompanhamento médico. “As mulheres que apresentam sintomas têm grande benefício ao fazer a reposição hormonal e já devem iniciar ao surgirem as queixas do climatério, não sendo necessário esperar a menstruação parar”, orienta José Augusto Crespo Ribeiro. Não basta apenas ter sintomas para iniciar a reposição, é preciso verificar qual o hormônio ideal e se existe alguma contraindicação.

Para Paula Ribeiro Ferreira, 49, a escolha pela reposição foi a mais acertada. “Com avançar da idade me preocupei em fazer exames de rotina mais seguido e acompanhar minha imunidade, em um destes exames o médico observou a queda e já fui alertada que os hormônios estavam diminuindo, que provavelmente, seria a chegada do climatério e a menopausa. Então ele já recomendou o uso de hormônios em gel para passar entre as pernas e antebraços”, relata.

Paula conta que ainda assim sentiu sintomas dessa nova fase, mas acredita que o uso dos hormônios foram essenciais para amenizar. “Os sintomas foram muito leves, um pouco de desânimo e cansaço, falta de libido e alguns calorões, mas foi uma questão de reajustar a quantidade dos hormônios que tudo melhorou”, explica.

Outros sintomas que podem acompanhar a transição incluem depressão, ansiedade, alterações na pele e nos cabelos, dor nas articulações e secura vaginal. O acompanhamento médico é fundamental para orientar e ajudar a mulher a decidir quais são suas melhores opções de tratamento e terapia hormonal, buscando qualidade de vida e deixar os sintomas muito mais controláveis. O ginecologista alerta que o acompanhamento ginecológico não deve ser abandonado com o inicio da menopausa, os cuidados devem ser mantidos como de costume. “Manter a revisão ginecológica é importantíssimo, pois é nessa fase também que costumam ser apresentadas outras patologias e que devem ser detectadas precocemente para que se tenha bons resultados nos tratamentos”, ressalta.

Menopausa e a alimentação
A alimentação está diretamente ligada à saúde. Desta forma, evitar ou escolher pelo consumo de alguns alimentos podem auxiliar neste período da vida das mulheres. Não são alimentos específicos que irão adiar a menopausa, no entanto, a alimentação pode ter um grande impacto na vivência de uma menopausa mais tranquila, de um ponto de vista médico e também dos sintomas vividos pela maioria das mulheres que passam por este período.

De acordo com a nutricionista Petrine Delgado Carriconde, para as mulheres com peso saudável, praticantes de atividade física, com rotinas menos estressantes e hábitos mais saudáveis, terão provavelmente menopausas mais tardias e irão sofrer menos com os sintomas. Ela relata ainda que a primeira e maior reclamação entre as pacientes são os fogachos e o ganho de peso. “Neste período o ideal é atentar para os alimentos ingeridos, evitar os condimentados, pimenta, gengibre, cafeína em excesso, além do consumo de álcool. É preciso observar se essa paciente fuma, como é o estilo de vida, se pratica e qual a intensidade de exercícios físicos, pois o ganho de peso mais facilmente é um reclamação constante”, explica.

A busca por uma dieta variada e equilibrada, essencialmente baseada em vegetais, leguminosas, frutas e oleaginosas, com baixo consumo de proteínas e laticínios, baixo consumo de álcool e manter a hidratação, costuma ser o mais recomendado. “Ingerir alimentos ricos em água como alface, melancia, laranja, abacaxi além de beber muita água é uma combinação muito importante.”

A nutricionista explica que as ondas de calor costumam também atrapalhar a qualidade do sono, desta forma colocar em prática na rotina a higiene do sono por auxiliar na sensação de cansaço, no dia seguinte.

“Consumir alimentos mais leves e mais cedo, evitar bebidas estimulantes como café e chimarrão após as 17h, não fazer o uso de eletrônicos quando estiver deitada e preparar um ambiente com poucas luzes contribuem para noites melhores de sono”, orienta. Além disso, acompanhar exames para verificar se existe déficit de vitamina e se necessário também fazer a reposição.Petrine salienta ainda para a importância que deve ser dada à saúde intestinal, que está bastante ligada às oscilações de humor e também à depressão, que pode ser um dos sintomas de algumas mulheres. “É necessário caprichar no consumo de probióticos e fibras durante o dia, cuidar da saúde intestinal vai ser muito impactante no emocional.”

Não devem ser minimizados esses cuidados que podem acabar resultando em problemas que têm como a sua origem a relação inseparável do físico com o psíquico, para isso é importante ter cuidados não só com a saúde física, mas também com a mental.

Menopausa, desejo e sexualidade
A psicanalista Carla Gonçalves Rodrigues explica que manter hábitos saudáveis como atividades físicas e alimentação balanceada são essenciais, mas que estas escolhas não resolvem tudo. “Além disso, recomendo a manutenção da vida social em grupos, prática sexual, interesses lúdicos que potencializem a curiosidade e a informação, planos para o futuro e não descuidar do acompanhamento de profissionais da saúde”, ressalta.

Segundo Carla, uma das características mais marcantes e inconvenientes da menopausa é a diminuição da libido, que acontece em conjunto com todos os outros sintomas. Isso se dá por conta de uma queda maior nos níveis de estrogênio, podendo causar ressecamento e atrofia vaginal e fazem com que o ato sexual possa ser mais doloroso do que prazeroso.

Mas cabe salientar que nenhuma mulher passará pela menopausa igual à outra. A psicanalista ressalta para a vida ativa que a maioria das mulheres têm após os 50 anos, seja no âmbito profissional, pessoal e amoroso. E, assim como demais sintomas deste período de vida, devem ser acompanhados por um profissional para que não desencadeiem momentos de tristeza que podem evoluir até para quadros depressivos. “A capacidade de amar e o desejo não envelhecem, continuam presentes ao longo da vida, mesmo com a passagem do tempo. A psicanálise ensina que o inconsciente é atemporal e, por isso, não envelhece. Ele se constitui de traços, marcas de experiências sentidas, vividas, fantasiadas, assimiladas e traduzidas que tornam cada sujeito único”, explica.

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