Retrospectiva

Covid-19: três anos de marcas e mudanças

Em 11 de março de 2020, a OMS declarava a pandemia do coronavírus e o mundo começava a mudar

Foto: Vinicius Peraça/arquivo - DP - Pandemia mudou configuração da sociedade

Há três anos, no dia 11 de março de 2020, a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou que a propagação da Covid-19, causada pelo novo coronavírus, era uma pandemia. Naquele momento, a doença, inicialmente identificada em Wuhan, na China, já havia chegado a 120 mil casos e quatro mil mortes em todo o mundo, enquanto o medo e a dúvida se espalhavam pelo mundo.

Nos meses que se seguiram à declaração de pandemia pela OMS, a humanidade passou por mudanças profundas e impactantes - além de controversas. O distanciamento social para evitar o contágio pela doença fez com que empresas fechassem as portas, trabalhadores fossem para casa, alunos ficassem longe das salas de aula e famílias se separassem pela primeira vez.

Até o alívio da vacina, que chegou ao Brasil no começo de 2021, a necessidade de lockdowns, a perda de familiares e a angústia do isolamento causaram prejuízos incalculáveis em diversas esferas da sociedade.

Família, trabalho, educação e dinheiro
A cientista social e política Elis Radmann, diretora do Instituto Pesquisas de Opinião - IPO, avalia que a pandemia trouxe grandes impactos para quatro áreas, além da saúde: a família, o trabalho, a educação e a economia. No âmbito familiar, ela explica que houve os dois movimentos, tanto de afastamento quanto de aproximação de pessoas.

"Saímos mais fragilizados do que entramos, com contatos mais superficiais pela internet", diz. Segundo ela, isso potencializou movimentos nas relações que já vinham acontecendo com uso da tecnologia, através de aplicativos de troca de mensagens e videochamadas. Nas relações de trabalho houve, também, uma potencialização no trabalho remoto ou híbrido e hoje dois de cada dez gaúchos continuam nessas modalidades de trabalho, enquanto 60% da população não exerce funções que permitam o trabalho remoto.

Porém, foi na educação que a pandemia deixou as marcas mais graves, aumentando a desigualdade educacional entre crianças com diferentes condições de acesso à escola, especialmente nas séries iniciais. "É um preço que a gente não consegue mensurar. O custo na capacidade intelectual e cognitiva da sociedade, dessa geração que passou pela pandemia, a gente vai enxergar mais adiante e tem que ser olhada com atenção", explica Elis.

Outro legado negativo da pandemia é o econômico, com o aumento da desigualdade e das pessoas em insegurança alimentar. Em 2022, o País voltou ao mapa da fome da ONU, com mais de 33 milhões de brasileiros sem a garantia de que vão ter o que comer.

Um estudo feito pelo IPO em 2022 revela que, para a população gaúcha, os principais impactos da pandemia foram econômicos e na saúde mental. O recorte mostra que pessoas de menor renda foram mais afetadas economicamente, sendo relatado por 40,5% das pessoas com renda familiar de até dois salários mínimos. Nas rendas mais altas, a saúde mental foi o maior problema para 40% das pessoas com renda superior a seis salários mínimos.

Saúde mental
O psicólogo clínico Marcelo Freda explica que o medo do desconhecido e a incerteza no começo da pandemia tiveram profundo impacto, em especial nas pessoas que já enfrentavam sofrimentos em relação à saúde mental e em famílias mais vulneráveis socialmente. "Além disso, com a alta mortalidade, muitas pessoas passaram por processos de luto em meio a isso tudo", diz. "Todas essas mudanças afetaram também as relações dentro e fora das famílias. A convivência em meio a essa tensão acabou evidenciando conflitos, tornando insustentáveis algumas relações afetivas ou de trabalho."

As mudanças provocadas pela pandemia também exigiram que muitas pessoas reavaliassem os seus rumos de vida. "Nunca se falou tanto em saúde mental quanto nesses últimos anos", diz o profissional, apontando que isso evidencia a necessidade de ampliação de políticas públicas com esse foco, especialmente para a população mais vulnerável.

Fé e adaptação
Conhecidas pelas atividades presenciais, através da evangelização de porta em porta, as Testemunhas de Jeová são um dos grupos religiosos fortemente impactadas pela pandemia. Com os encontros presenciais suspensos desde março de 2020, os fiéis só voltaram a se reunir em abril de 2022 e a pregação nas ruas só foi retomada em setembro do ano passado. "Nós suspendemos no mundo inteiro as reuniões presenciais e procuramos fazer por videoconferência. Foi uma mobilização total pra usar ferramentas para fazer nossas reuniões", explica o porta-voz na região, Cláudio Moreira.

Segundo ele, no período da pandemia o grupo continuou o trabalho através de ligações e até mesmo cartas. "A pandemia nos ensinou a valorizar o calor humano, nós sentimos muita falta do contato com os irmãos", diz Moreira.

Para a pelotense Karen Krüger, o desafio da pandemia foi outro: a mudança de país. Formada em Jornalismo pela UFPel, Karen foi aprovada para cursar mestrado na Universidad de León, na Espanha, em plena pandemia. Hoje morando em Portugal, sente que a experiência de passar pela pandemia em lugares diferentes foi estranha, ao comparar como os dois países se comportaram. "Sempre senti que a vida estava normal de máscara. Isso me chocou, porque eu saí do Brasil que permaneceu muito tempo em lockdown. Os espanhóis respeitavam todas as regras, mas não tinha um medo, um pavor, como eu reparava nos brasileiros. Só queria tomar a vacina logo."

Principais impactos da pandemia para os gaúchos:

Econômico/financeiro: 38,5%
Saúde emocional/mental: 24,6%
Saúde física: 6,4%
Problemas familiares: 2,3%
Educação: 2%
Não teve impacto da pandemia: 25%
(Fonte: IPO)

Evolução da pandemia


Pelotas
Rio Grande do Sul
Brasil
Primeiro caso
25/03/2020
10/03/2020
26/02/2020
Total de casos hoje
110,5 mil
2,9 milhões
37 milhões
Primeiro óbito
20/06/2020
24/03/2020
12/03/2020
Total de óbitos hoje
1.584
41,9 mil
699,3 mil


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