Arte

Casa própria para o Tholl

Depois de duas décadas, o grupo criado por João Bachilli ganha sede fixa a partir de agosto

Nauro Júnior - Satolep Press - DP - Espetáculo na terça-feira marcou a inauguração da Sala de Teatro na futura sede do Tholl

A estrada da arte é sinuosa, mas com paisagens incríveis para quem acredita nos sonhos. É por esse caminho que depois de cinco diferentes endereços, ao longo de mais de duas décadas, o Grupo Tholl ganha uma sede para chamar de sua. O prédio que abrigou a antiga fábrica dos Irmãos Zanotta da Cruz no final do século 19, passa a ser o novo endereço do Tholl, na rua Anchieta, 925. A história da “casa própria” reconta também os bastidores de uma amizade nascida na juventude. A parceria entre João Bachilli, criador do Tholl, e João Schmidt, atual produtor do grupo, nasceu na metade dos anos 80. As mentes criativas se cruzaram em pleno ápice da cena teatral pelotense, tendo como maestro o teatrólogo Valter Sobreiro Júnior.

Os tempos de tablado moldaram a trajetória de ambos no mundo das criações artísticas, mas logo seguiram caminhos distintos. Bachilli se dedicou a fazer nascer a Oficina Permanente de Técnicas Circenses (OPTC) em 2002, logo transformado em Grupo Tholl, enquanto Schmidt consolidava sua carreira como produtor cultural no Rio de Janeiro.

O reencontro entre Bachilli e Schmidt veio em 2012, com a presença do Grupo Tholl em “Par ou ímpar”, espetáculo musical, teatral e circense com Kleiton e Kledir, com quem Schmidt trabalhava. O sucesso rendeu apresentações Brasil afora, um disco com participação especial de Fabiana Karla e até o Prêmio da Música Brasileira. Bachilli então convidou Schmidt para voltar aos palcos, oferecendo papel de destaque no espetáculo Cirquin. O gosto do palco não lhe saiu mais da boca e com a pandemia a decisão de voltar de mala e cuia para Pelotas se consolidou. Assumiu também o cargo de produtor do Tholl e traçou novas rotas, reeditando a parceria do passado.

Recentemente, Schmidt surpreendeu o amigo com a notícia de que havia adquirido a sede para o grupo. “Eu sugeri comprar parte do prédio, mas Schmidt fez questão de proporcionar esse presente em nome da arte que nos uniu”, emociona-se Bachilli. Quando questionado do porquê desse gesto altruísta, a resposta de Schmidt vem com serenidade. “Porque o Bachilli é meu irmão, começamos juntos na vida artística e esse prédio continuará dando alegria às nossas vidas e à nossa imaginação”, resume.

Oásis da cultura
Um presente merecido para uma trajetória em que foram gerados incontáveis sorrisos, por volta de três mil apresentações e mais de dois milhões de espectadores, fora participações em rede nacional. Com cerca de 800 metros quadrados, o espaço estava desativado há mais de 20 anos e tinha virado estacionamento.

O prédio passa agora por ampla reforma e o novo projeto abarca tudo que a trupe precisa. O salão de ensaios, por exemplo, terá o pé direito com mais de sete metros para que todos os números aéreos possam ser exercitados. Os camarins com amplitude para que os cerca de 120 integrantes preparem-se para os espetáculos. O almoxarifado terá espaço para guardar figurinos e cenários dos cinco espetáculos, além de cafeteria. A cereja do bolo é um teatro multiuso para as apresentação do Núcleo Tholl de Teatro.

Vida mambembe
A primeira sede do então OPTC teve endereço na Academia Estímulo e logo depois passou para o Colégio Municipal Pelotense, onde Bachilli lecionava. Na medida em que a “família Tholl” ia crescendo, as necessidades se ampliavam.

O prédio na rua Almirante Tamandaré inaugurou a presença da trupe na região do Porto, onde na sequência o Expresso Embaixador ofertou o uso de um dos seus galpões para o Centro de Treinamento. O espaço acolheu todas as necessidades até o ano passado, quando a empresa precisou reavê-lo. A quinta mudança foi para um galpão alugado da rua Guilherme Wetzel, onde atualmente acontecem os ensaios.

Em obras, mas com arte
Enquanto as tesouras de madeira são realocadas e as paredes ganham mais altura, um dos espaços já começa a ter uso e receber o público, mesmo com a obra em andamento. O primeiro a ficar pronto foi o tablado do Núcleo de Teatro Tholl. A sala de apresentações tem a inspiração em uma “caixa preta”, destinadas a diversas manifestações artísticas.

Foi nesta sala que aconteceu na última terça-feira a 50ª apresentação da peça teatral Pai-de-Deus. O título da obra é o apelido dado a um torturador, personagem encenado por Schmidt, que faz dueto com o ator Germano Rusch. Com texto de Valter Sobreiro Júnior, a história aborda as memórias que os ligam a um passado comum: a ditadura militar.

Através de projeções de vídeo, o espetáculo traz a participação de Tania Fayal, em depoimento sobre suas terríveis experiências sofridas durante os anos de chumbo. As apresentações da peça seguirão acontecendo e para participar basta entrar em contato através do Instagram @grupotholl para fazer a inscrição.

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