Multimídia

É traçado um novo perfil para a futura polícia municipal

Frota de veículos nova e o reaparelhamento do efetivo com a aquisição de equipamentos de segurança são respostas aos investimentos

Paulo Rossi -

Se fosse capaz de projetar o futuro quando ingressou no quadro de vigilantes de Pelotas, em 1987, Arquimedes Ávila, de 46 anos, jamais imaginaria estar fardado com equipamentos modernos de segurança e fazendo parte do treinamento da Tropa de Choque da Guarda Municipal. Se bem que ele nunca deixou de apostar na capacidade do órgão a que serve. “É uma questão de tempo para que a guarda conquiste seu espaço entre as forças que atuam na segurança da cidade.”

> Confira um vídeo com detalhes sobre o treinamento abaixo da matéria

A confiança e a autoestima de Ávila são compartilhadas entre os colegas, alguns mais antigos, com 22 anos de carreira, e outros mais novatos, como os 74 que ingressaram na última turma de aprovados em concurso. E sem deixar de lado a missão constitucional: zelar pelo patrimônio público, a Guarda Municipal vem apresentando um novo perfil à sociedade pelotense, com vistas a ser quem sabe, uma polícia municipal. “Não somos nós que dissemos isso. A questão é discutida pela Segurança Nacional”, defende o comandante da Guarda Municipal, Ladislau Lopes Neto.

Investimento
“Há um debate em andamento aqui em Brasília que trata do Sistema Único de Segurança Pública, o Susp, mas cada órgão com sua devida atribuição”, sustenta o deputado federal Fernando Marroni (PT). Pensando nessa possível integração o governo federal, por meio do Programa Nacional de Segurança e Cidadania (Pronasci), tem investido em várias ações, sendo as mais conhecidas as UPPs do Rio de Janeiro. Com uma guarda constituída, Pelotas se habilitou, por meio de emenda parlamentar, conseguiu recursos de R$ 1,7 milhão somente para a unidade.

A resposta aos investimentos estão na frota de veículos renovada recentemente, além do reaparelhamento do efetivo com a aquisição de equipamentos de segurança, entre eles capacete e escudo antimotim. Mas nem sempre foi assim.

Oportunidade
Há 22 anos, a Guarda Municipal surgia em Pelotas para resguardar o patrimônio da cidade. Composta por 300 guardas e munida de dez motos, um carro usado e um colete preto, a unidade chegou a servir de modelo para outras cidades, como Novo Hamburgo. Mas foi só.

A partir de 1991 e durante longos 14 anos, o período foi de ostracismo, segundo os servidores mais antigos. “Passamos um tempo escondidos, à sombra da comunidade. Faltavam incentivo e vontade”, declarou o comandante Neto, que ingressou na GM em 1990. Mas a decadência de andar com um colete e um bastão não chegou a servir de motivo para que integrantes deixassem a GM, sendo que as exonerações que ocorreram foram por questões profissionais, segundo um ex-guarda municipal.

“Eu ingressei na terceira turma, em 1991, e permaneci por cinco anos. Como servidor público, tive o direito de pedir licença de dois anos e fui trabalhar na RBS e, com a possibilidade de seguir no jornalismo, me exonerei”, conta o jornalista Carlos Machado. Ele lembra que alguns colegas fizeram a mesma trajetória, isto porque o salário do GM era bom e permitia que os servidores cursassem o Ensino Médio e, principalmente, o nível superior. “Era uma carreira de passagem.” Há notícias também que outros integrantes migraram para as polícias.

Evolução
A retomada da GM ocorreu a partir de 2005. A aquisição de viaturas e o deslocamento entre praças e prédio passaram a dar mais visibilidade aos servidores e à comunidade, principalmente. “Isso acabou causando sensação de segurança”, apostou Neto. “A presença dos guardas no parque Dom Antônio Zattera me trouxe a sensação de proteção. Antes, nem à luz do dia eu atravessava o lugar tão belo, mas que até então considerava perigoso”, revelou a estudante Gilka.

O novo fardamento e a instalação de uma central de rádio garantiram ânimo aos grupos que passaram a monitorar 152 postos, via sistema de alarme. “O primeiro atendimento a prédio público é o nosso. E, por isso, já encaramos situações conflitantes e outras inusitadas como a de um assaltante que ficou preso entre as grades”, lembra.

Futuro
O comando da GM está com projetos e pleitos em andamentos e aposta que a conquista de ferramentas de trabalho, como acesso ao Infoseg que é um programa de Integração das Informações Criminais da Secretaria Nacional de Segurança, auxiliaria o trabalho das polícias, além de concretizar a integração entre as forças da segurança, proposta do Gabinete de Gestão Integrada Municipal (Ggim). “Acho que hoje seria impossível retirar a Guarda Municipal das ruas”, considera o comandante da unidade, Ladislau Neto.

Tropa de Choque em ação
A formação da tropa aguarda o comando: hora de agir diante de uma situação de motim. Munidos de bastão e escudos, os guardas municipais avançam em direção aos manifestantes em busca do controle e da ordem. Claro que se trata de uma simulação, mas é a assim que os 29 integrantes da Tropa de Choque da Guarda Municipal se preparam para atuar em situações de risco. As técnicas são aplicadas por quem conhece bem o assunto: o exército brasileiro.

“Foram cinco horas/aulas de teoria e 20 horas/aulas de muita prática”, sinaliza o comandante do pelotão, GM André Farias. O foco principal é a qualificação do grupo. “Nós temos a missão de defender os bens públicos e precisamos estar preparados no caso de uma manifestação ilegal em frente à prefeitura, por exemplo.” Para o responsável pelas Operações do Pelotão da Polícia do Exército, sargento Colomby, a missão são as mesmas treinadas pela força nacional, sendo que o diferencial está na esfera de atuação. “A força nacional é empregada quando as polícias já não deram conta e a situação fica fora de contexto”, salienta. Para o treinador, a capacitação da GM é fundamental, uma vez que tudo indica que ela será, no futuro, uma força de apoio à Brigada Militar e à Polícia Civil.

A presença da Tropa de Choque, segundo o comandante Farias, é em último recurso. “Iniciamos pela mediação com os manifestantes e depois a negociação”, explica. Quando não surte efeito, com o uso de equipamentos o pelotão parte para a repressão.

Parceria
A realização do curso, sem ônus à prefeitura de Pelotas, surgiu de um pedido do próprio comandante do Pelotão de Choque que serviu à Polícia do Exército em Pelotas. O acordo foi firmado entre o comandante da GM, Ladislau Lopes Neto, e o comandante do 8º Pelotão de Polícia do Exército, capitão Eduardo Freitas Gorga. Um dos treinamentos ocorreu na Primeira Legião Paintball, que foi criada há cinco meses com essa especificidade, mas também abre espaço para jogos. O grupamento de choque recebeu ainda orientações sobre escolta de autoridades no Centro de Eventos Fenadoce e no castelo João Simões Lopes Neto.

Presença feminina
Força, determinação e coragem foram os requisitos básicos para os voluntariados à Tropa de Choque da GM. Mas um levou a única mulher a se candidatar à vaga: o gosto pela ação. Integrante da unidade desde outubro de 1990, Indiara dos Santos Pereira, de 44 anos, já vivenciou situações de risco. “Certa vez, cerca de 200 pessoas queriam invadir um ginásio e éramos apenas seis para controlar”, lembra. Indiara encarou o período em que a GM não tinha visibilidade. Chegou a duvidar da possibilidade da unidade estar reaparelhada e qualificada. Mas nem por isso, pensou em desistir, até porque ela tem na tranquilidade uma aliada no cumprimento de sua missão: defender o patrimônio do município. “O segredo de uma boa negociação é manter a calma”, revela.

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