Arte

Isabel Ramil expõe no Museu Estadual do Carvão, em Arroio dos Ratos

Artista plástica criada em Pelotas participa da exposição Lá Embaixo Era Um Outro Mundo, com trabalhos que questionam a relação do carvão com o capitalismo industrial

Foto: Anna Ortega - Especial - DP - Isabel Ramil permaneceu uma semana em Arroio dos Ratos

Em Arroio dos Ratos, distante 282 quilômetros de Pelotas e 55 quilômetros de Porto Alegre, localiza-se o Museu Estadual do Carvão, onde estará aberta a visitação a exposição Lá Embaixo Era Um Outro Mundo, a partir de 13 de abril até 7 de julho. A curadoria é da pesquisadora Taís Cardoso, com obras da artista plástica Isabel Ramil, que tem raízes em Pelotas e reside em Porto Alegre, e Marco Antonio Filho.

O Museu do Carvão foi criado em 1986, ocupa uma área de 10 hectares e é administrado pelo governo do Estado. Está em Arroio dos Ratos, município de pouco mais de 14 mil habitantes, onde abrigou a primeira usina termelétrica do país, inaugurada em 1924 e em atividade até 1956. Lá também começou a exploração nacional do carvão mineral, a partir de 1855, e com picos de produção nos períodos das guerras mundiais, já no século 20.

A ideia da exposição, conta a curadora Taís Cardoso, nasceu devido à complexidade do carvão mineral, a fonte energética que proporcionou a explosão da Revolução Industrial, mas que atualmente é encarada com preocupação pela alta periculosidade ao meio ambiente, em contribuição ao efeito estufa e ao aquecimento global.

Taís, natural de Charqueadas (município vizinho a Arroio dos Ratos, na região Carbonífera), conheceu o Museu Estadual do Carvão, criado em 1986, e em janeiro de 2023 passou 10 dias com os artistas em Arroio dos Ratos, a fim de criar o acervo para a exposição por meio de pesquisas em documentos do arquivo histórico do Museu.

“Entendi que tínhamos um excelente ponto de partida para desenvolver uma reflexão sobre essas questões que também compõem o processo de modernização e do desenvolvimento do capitalismo no Brasil”, relata.

O convite a Isabel Ramil, que construiu a carreira artística principalmente em Porto Alegre, mas se criou em Pelotas, aconteceu pelo fato de a artista “transitar com muita desenvoltura entre alta e baixa cultura”, revela Taís, e pelo entendimento de que “ela poderia não só se interessar pela iconografia da região carbonífera, mas pela experiência como um todo e que ela produziria ótimas reflexões, o que de fato aconteceu”.

Isabel explica que, durante o breve período de “residência” em Arroio dos Ratos, foram visitadas minas de carvão em funcionamento, um campo de rejeito e realizadas conversas com um engenheiro, que explicou como se dão os processos de mineração. “Esse foi o momento de gestação de ideias, de trocas e experiências, de pesquisa. Após o período da residência, nos meses seguintes é que os trabalhos foram sendo desenvolvidos conceitual e fisicamente”, diz a artista.

O trio iniciou na terça-feira (9) o processo de montagem da exposição, que terá participação, ainda, do trabalho Vaga em Campo de Rejeito, da professora Maria Helena Bernardes, referência nas artes plásticas no Rio Grande do Sul, que foi exposto há 20 anos no mesmo espaço.

“Esses acréscimos enriquecem o que está sendo trabalhado, porque cria essa ponte histórica com o que foi feito há 20 anos, que a Maria Helena nos cedeu de forma muito generosa. A gente conseguiu formar um corpo de trabalho muito legal”, avalia Isabel. “Vai ter seleção de imagens e documentos do Museu, coisas que nos interessaram por motivos diversos e quisemos trazer para o público ter acesso”, completa.

Conhecer o espaço físico e o acervo histórico do Museu do Carvão, para Isabel Ramil, foi o mais importante neste processo de elaboração e montagem da exposição. “Eu não tinha noção dessa história, que existia esse lugar, que tem prédios antigos e um frontão em ruínas do começo do século 20, super impactante.”

A quem for visitar a exposição, Isabel recomenda atenção aos “ossinhos de rato”, que são a base do trabalho realizado pela artista. “Essa é uma coisa legal, que aconteceu naturalmente. Chamou minha atenção os ossinhos de rato que encontrei embaixo do frontão. Eu exponho a coleção que fiz desses ossos, e acho interessante a quem for se atentar a isso, às bolotas de coruja com os seus ossinhos.”

A artista também propôs uma releitura de uma foto da Princesa Isabel ao lado de Conde D’Eu e filhos, em visita à mina de carvão em 1885, e estará na chaminé da antiga termelétrica, fora do espaço expositivo. “Pensei sobre a relação de poder e colonialismo com a mineração, de massas de trabalhadores cujas vidas são dispensáveis, porque lá no início os caras entravam a 300 metros abaixo do chão, respirando mal, cheiro a enxofre”, explica Isabel. “Nesse trabalho, terá pó de carvão no chão, de sujar os pés. É um trabalho que para ver, tem que se sujar, é o que acontece quando se trabalha com este tipo de material.” ​

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