Na noite de terça-feira (24), a Praça da Alfândega, no Porto de Pelotas, foi palco de um resgate histórico e religioso em razão da inauguração do monumento ao Orixá Ogum e São Jorge. A entrega da escultura à comunidade pelotense está entre os destaques da Festa de São Jorge Ogum Guerreiro, e atende a proposição do vereador Paulo Coitinho (Cidadania), através da Frente Parlamentar em Defesa dos Povos Tradicionais de Matriz Africana e foi realizada na presença de demais representantes de entidades religiosas de origem africana em Pelotas.

A escultura é uma imagem em cimento armado com ferro, com cerca de dois metros de altura, em honra ao Dia de São Jorge / Pai Ogum, ocasião reverenciada em todo País por devotos do Santo. Em Pelotas, a entrega do monumento celebra um marco, possibilitando que seus fiéis aproveitem sua presença em qualquer época, com devoção e fé, além de simbolizar um ato histórico para o Município. Fazendo parte da comissão que organiza o evento, Josué Martins, de 50 anos, cita que Pelotas é uma cidade tradicional que tem em sua origem a escravidão negra. “Nessa região do Porto foi por onde os negros chegaram. E junto com eles vieram as religiões afro-brasileiras. São Jorge é uma figura católica, que na época do sincretismo os negros foram obrigados a seguir e cumprir essa determinação dos senhores escravagistas. Mas pra nós é Ogum, tanto na religião da Umbanda como no africanismo”, explicou Martins.

Procissão
O evento foi dividido em três momentos. Inicialmente, uma procissão da carreata saiu do Centro Espírita de Umbanda Caboclo Chiara, da irmã Josi, de Iemanjá e de Paulinho de Xangô, até chegar na Gruta das Mães do Quadrado. Essa parte foi conduzida pelo Corpo de Bombeiros. A partir disso, se iniciou a procissão a pé, com os devotos carregando São Jorge no Andor até o monumento de São Jorge e Ogum Guerreiro, onde já estavam as autoridades presentes e terreiros de Umbanda aguardando para o grande evento da noite, a entrega do monumento de Ogum.

Elementos do sincretismo no Porto
Segundo outro responsável pela realização da festa, Carlos Alberto Pereira, de 58 anos, às margens do canal São Gonçalo, no Porto de Pelotas, é considerado um local que carrega uma quantidade de materiais do sincretismo religioso do Pai Ogum, como o ferro, o metal e os navios, e por isso o evento é um resgate para a cultura religiosa. “Quantos reis, rainhas, príncipes trazidos da mãe África foram jogados dentro das margens do canal São Gonçalo? Quantas crianças? Quantos negros, negras, grávidas? Então, isso é um resgate e uma purificação dessa zona do Porto. E rogando sempre a Pai Ogum, que através dessa simbologia, dessa imagem abençoada, é que ele possa trazer a geração de emprego, a saúde e a prosperidade para o nosso Município”, deseja o fiel.

Reparação histórica
A escultura é uma reparação histórica importante para Pelotas, sendo o primeiro monumento em homenagem a Ogum na região. Ogum é um orixá que tem muitos devotos, especialmente na metade sul, seja pelas religiões de matrizes africanas, ou pela religião católica. “Esse monumento é um espaço que a gente quer e imaginamos que vai acontecer, um espaço que vai ter muitas pessoas que virão para adorar, que vão trazer o seu carinho, o seu apreço, poder acender a sua vela. A ideia é essa, que a gente possa fazer a entrega para os filhos dele, para o Orixá Ogum Jorge Guerreiro”, pontuou o vereador Paulo Coitinho, responsável pela proposta de lei que institui a festa.