Por Eduardo Ritter
Professor do Centro de Letras e Comunicação da UFPel | rittergaucho@gmail.com
O meu primeiro livro de crônicas, contos e duas ou três poesias, resultado de produções dos últimos 15 anos, intitulado Dançando valsa no pagode, finalmente vai sair. Sim, eu escrevi aqui semanas atrás que o editor havia cancelado a empreitada, mas acabei ganhando ele no cansaço. Enfim, sem delongas, coloco aqui uma pequena amostra com uma poesia bukowskiana escrita lá pelos idos de 2018. O livro, na íntegra, deve ser publicado até o final do mês pela Editora Insular. Eis o singelo poema: “Piscina”.
Fazia 35°C
Quando Ronaldo chegou cansado
Após mais um dia inteiro
De trabalho
E se jogou na piscina
Um dos raros luxos
Da qual
Não abria mão
Apesar da crise
Ela chegou
E parou
Na borda
Com aquela pança
Obscena
De fora
E começou a falar
E a se queixar
Da vida
Se queixou das árvores
Que derramavam folhas
Na piscina
Se queixou do Banzé
Que cagava
Pelo pátio
Se queixou dele
Que ficava ali
Boiando
Enquanto o mundo
Pegava fogo
E as contas estavam
Atrasadas
Então ele colocou as orelhas
Para baixo d’água
Deixando apenas
Os olhos e o nariz
Para fora
E ele ouvia apenas zumbidos
Daquela voz esganiçada
Que teimava
Em continuar
Se queixando de tudo
Ela falou por meia hora
E ele não ouviu nada
Além de zumbidos
E quando suas orelhas estavam enrugadas
Ela saiu
E então
Ele levantou a cabeça
E se sentiu
Maravilhosamente bem