Covid-19: Sul e Centro-Oeste tendem a cenário crítico nas próximas semanas
Segundo o perfil demográfico, as faixas etárias de 30 a 39, de 40 a 49, e 50 a 59 anos continuaram sendo aquelas com aumento mais notável de casos da enfermidade
Episódios de violência contra entrevistadores que estão nas ruas em 133 municípios brasileiros motivaram nota emitida pela reitoria
Por: Michele Ferreira
michele@diariopopular.com.br
Estudo adotado no Rio Grande do Sul, que já passou pelas três primeiras etapas, serviu de referência para o Ministério da Saúde decidir replicar a pesquisa em nível nacional (Foto: Daniela Xu - Especial DP)
Ao invés de respeito pela Ciência, truculência. No lugar de acesso facilitado para coleta de dados sobre a disseminação da Covid-19, agressão e materiais inutilizados. A Universidade Federal de Pelotas (UFPel) emitiu nota, neste domingo (17), em repúdio a episódios ocorridos em vários estados brasileiros. Em cerca de 40 cidades, o Centro de Pesquisas Epidemiológicas - com quase 40 anos de trajetória e reconhecimento mundial - ainda não conseguiu dar início ao estudo populacional contratado pelo Ministério da Saúde; nos moldes do que já ocorre no Rio Grande do Sul.
A pesquisa é de interesse público. As visitas domiciliares, com aplicação de entrevistas e de testes rápidos, serão fundamentais para identificar a extensão da contaminação do novo coronavírus no país, assim como a velocidade com que a pandemia se espalha - e mata - no Brasil. A expectativa é de que os resultados ajudem a balizar a implementação de políticas públicas do governo federal.
Na prática, parte das autoridades não entendeu. Por mais que a comunicação formal do Ministério da Saúde aos municípios possa ter chegado muito perto do início da coleta de dados, nada justifica o comportamento de "xerifes" assumido por alguns gestores municipais, que impedem ou atrapalham a realização de uma pesquisa que, com o perdão da repetição, pode ajudar a salvar a vida de milhares de brasileiros - destaca a nota.
A UFPel ainda reforça o apelo para o documento ser amplamente divulgado, inclusive com apoio da comunidade em geral. Em texto de 36 linhas, a instituição destaca a conduta da prefeitura de Manaus, no Amazonas, que, apesar de ser a cidade brasileira mais afetada pela Covid-19, foi a primeira a encerrar a rodada de coleta de dados; com todo suporte aos pesquisadores.
Cenas lamentáveis
Episódios de violência foram registrados em estados, como Piauí, Espírito Santo, Maranhão, Goiás, Ceará, Mato Grosso e Rio Grande do Norte. Em casos extremos, as equipes foram conduzidas à delegacia e os testes rápidos foram apreendidos. Profissionais também chegaram a deixar os municípios sob ameaça. Agressões, na rua, sob a acusação de que violavam a quarentena, também foram relatadas pelos entrevistadores.
Apesar de tudo, nossas equipes estarão em campo até a terça-feira, dia 19 de maio, para garantir que o maior estudo populacional sobre coronavírus do Brasil continue ajudando a salvar a vida de milhares de brasileiros - reforça a nota assinada pela UFPel.
Entenda melhor o estudo
O estudo Evolução da Prevalência de Infecção por COVID-19 será dividido em três rodadas para coleta de informações. Ao todo, 99.750 pessoas serão entrevistadas e testadas em 133 municípios brasileiros. Para definir quais os territórios receberiam a pesquisa, o alvo voltou-se à maior cidade das 133 regiões intermediárias do país. Ficavam definidos, portanto, os 133 municípios.
O projeto EPICOVID-BR, coordenado pelo Centro de Pesquisas Epidemiológicas, foi submetido à apreciação da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep) e aprovado em 28 de abril. Para a coleta de dados, foi contratado, após processo seletivo, o Ibope, com larga experiência em estudos populacionais.
O coordenador da pesquisa e reitor da UFPel, Pedro Curi Hallal, destaca que todos os requisitos éticos e de segurança são seguidos à risca, como uso de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs), inclusão apenas de entrevistadores com teste negativo para anticorpos do novo coronavírus e instruções para o descarte dos materiais; conforme pactuado com o Ministério da Saúde.
Com todo o passo a passo atendido e o conhecimento do Centro de Pesquisas Epidemiológicas para liderar este tipo de estudo, na última quinta-feira teve início a primeira saída de campo. Agora resta a truculência dar espaço à Ciência.