A adoção da inteligência artificial (IA) pelo jornalismo é uma novidade que vem agradando muitos editores ao redor do mundo. Veículos midiáticos de referência como The Washington Post e Associated Press já vem utilizando IA a fim de identificar dados complexos sobre transações financeiras, por exemplo.
Antes desta tecnologia, o trabalho de análise de dados era demorado, cansativo e demandava muito tempo do jornalista. Com a inserção da inteligência artificial, várias tarefas passaram a ser realizadas por softwares.
De acordo com Francesco Marconi, professor de jornalismo da Universidade de Columbia, nos Estados Unidos, a inteligência artificial diz respeito a máquinas que executam tarefas que seriam realizadas por seres humanos.
Para Marconi, que trabalhou como chefe do laboratório de mídia do Wall Street Journal e Associated Press, o jornalismo não está acompanhando a evolução das novas tecnologias. Nesse contexto, o especialista destaca que as redações precisam aproveitar as potencialidades da IA e desenvolver novos modelos de negócios.
O jornalismo é uma profissão de muitas etapas: pesquisa, entrevista, investigação, edição, escrita e publicação, entre outras. Assim, no processo de produção de uma notícia ou reportagem, o jornalista tem que dar conta de várias coisas ao mesmo tempo.
Então, como a inteligência artificial pode ser benéfica para a produção jornalística?
A aplicação de sistemas de IA no jornalismo pode oferecer diversas vantagens:
maior agilidade na execução de procedimentos complexos que envolvem bases de dados gigantescas;
apoio ao trabalho dos jornalistas através de alertas sobre eventos;
disponibilização de rascunhos de textos que podem ser completados pelo profissional…
… entre muitas outras.
Quer um exemplo mais prático? Imagine a cobertura de um jogo de futebol. Para o jornalista escrever uma matéria que contenha todas as informações sobre o desempenho dos jogadores e os momentos importantes do jogo, ele precisaria ficar atento a ponto de nem piscar, já que é muito difícil perceber todos os detalhes técnicos.
Contudo, com a utilização de um sistema de IA é possível ter acesso a todos esses dados. Dessa forma, o jornalista pode focar o seu tempo entrevistando, narrando situações que aconteceram durante o jogo e contextualizando o ambiente. Isso permite que o lado humano da matéria seja mais valorizado.
As vantagens da inteligência artificial não se limitam à produção textual e ao jornalismo em si. Sistemas de IA contribuem para a inclusão de pessoas com deficiência nos meios de comunicação, ocasionando maior acessibilidade.
Em 2020, a BBC introduziu em seu site a opção de uma voz sintética que lê os textos publicados. O recurso permite que pessoas com deficiência visual possam ouvir o que está sendo noticiado.
Este formato de consumo de notícias também possibilita uma nova maneira de engajamento do usuário com o conteúdo produzido pelas organizações midiáticas.
“A BBC viu uma demanda clara pela programação de áudio adicional nos últimos anos: 62% da audiência digital da BBC agora gasta entre 30 minutos a quatro horas ouvindo podcasts todos os dias”, destacou o veículo.
Atualmente, a utilização de inteligência artificial no jornalismo ainda é muito escassa, principalmente em países em desenvolvimento como o Brasil.
Conforme o jornalista Sérgio Spagnuolo, em um artigo publicado no ijnet, ainda não há consenso sobre a questão.
Alguns profissionais defendem que sistemas de IA podem aprimorar e auxiliar a produção jornalística, enquanto outros acreditam que ela é uma inimiga e pode gerar mais desemprego.
No entanto, como aponta o jornalista, a automação está acontecendo ao redor do mundo e não há como evitar o seu impacto.
“Cabe a nós fazer disso um aliado, preservando da melhor maneira os empregos de jornalismo e aumentando a produtividade em nossas redações. Precisamos apenas de uma estratégia (humana) adequada”, destacou Sérgio.